Plantio de soja safrinha divide opiniões em Mato Grosso

20/04/2014

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Os números oficiais, por enquanto, ainda não foram divulgados, mas pela expectativa dos sojicultores mais de 120 mil hectares de soja safrinha foram plantados neste ano em Mato Grosso. A prática, que cresceu na atual temporada, ainda gera dúvidas, divide opiniões e virou motivo de polêmica.

"É uma tragédia anunciada. A ferrugem asiática a cada ano chega mais cedo e não tenho dúvida que a safrinha é a grande causadora. Não há fungicida que aguente a pressão”, afirma Wanderlei Dias Guerra, coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em Mato Grosso. Na temporada 2013/14 foram contabilizados 72 focos da doença no Estado, conforme o Consórcio Antiferrugem.

Em grande parte, fatores como o econômico (preços mais atrativos em relação a outras culturas) têm influenciado a decisão do produtor rural. Noutra ponta, há quem também esteja optando pela safrinha para produzir as próprias sementes da safra seguinte.

"Sob o ponto de vista fitossanitário é um tiro no pé, mas pelo econômico é outra coisa. Como resolver isso? As associações têm que intervir com recomendações para não desestruturar o campo”, pontua Paulo Degrande, pesquisador da Universidade Federal da Grande Dourados/MS (UFGD).

Em Ipiranga do Norte, no médio-norte mato-grossense, o produtor Marino Franz fez pela primeira vez o plantio da safrinha de soja em 300 hectares. Mas os resultados devem ficar abaixo da expectativa. Podem ainda pesar na decisão do produtor em repetir a experiência no próximo ano. "Muito mais gastos”, resumiu ao Agrodebate. A fala faz referência ainda ao menor rendimento na safrinha por hectare.

O maior uso de agrotóxicos também virou motivo de alerta para os especialistas. "Não há fungicida que aguente a pressão. Com 5% de safrinha colocamos 100% da área de soja em risco”, considera ainda Wanderlei Dias Guerra. Para ele, a soja safrinha amplia em pelo menos três vezes a necessidade de aplicação de fungicida. Se na safra verão o número chegar a três, na safrinha, por outro lado, serão seis.

Entre os próprios agricultores, a ideia de plantar soja sobre soja ainda não é consenso. Produtor em Lucas do Rio Verde, a 360 quilômetros de Cuiabá, Gilberto Eberhardt diz não ter interesse neste "sistema". "Não tem viabilidade porque além de ter um rendimento menor para colher entre 30 a 35 sacas por hectare, as aplicações [contra pragas] são maiores”, pontuou.

A Associação dos Produtores de Soja e Milho no Estado (Aprosoja/MT) diz que o produtor tem a liberdade em fazer a escolha pela soja segunda safra. Mas deve, no entanto, ter consciência dos riscos e atender a legalidade. O grão plantado na safrinha deve ser colhido até 15 de junho, quando tem início no Estado o vazio sanitário.

"Colhendo até essa data está na legalidade. O produtor deve consultar seus engenheiros agrônomos para ver a viabilidade ou não da safrinha. Atendendo à legalidade, nada o impede que plante”, diz Nery Ribas, gerente-técnico da Aprosoja. "É preciso colocar tudo na ponta da caneta para tomar a decisão", conclui Ribas.

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DMW